terça-feira, 1 de junho de 2010

As experiências do MulherNaoPresta


(Que essa resposta dada pelo MulherNaoPresta no Formspring sirva para fechar a boca de alguns que o criticam. Sabem o que significa a palavra preconceito, ou talvez a expressão pré-conceito?)
Caro, admiro muito o que você faz e quero ter essa mesma experiência. Como você começou, o que aconteceu e como você superou os problemas para adquirir esse conhecimento?

Resposta do MNP:
Obrigado pelo incentivo.

Eu garanto que você não quer passar pela mesma experiência. E se quer mesmo saber o que aconteceu, vou tentar resumir:
1. Cresci numa família desestruturada;
2. Professores e colegas de escola achavam que eu era um problema. Faziam reuniões frequentes com a diretoria para que eu fosse expulso da escola particular onde frequentei da segunda à sexta série do fundamental.
3. Saí da escola particular para estudar numa das mais violentas escolas públicas da cidade onde morava. Alunos da minha idade, ou mais novos, chapados de qualquer substância esquisita, e brigas com objetos pontiagudos (desde canetas bic a tesouras) dentro de rodinhas eram rotina.
4. Por crescer sob ameaças de colegas, professores neuróticos e uma família ausente em vários aspectos, tive que me virar, sem referências, sem amizades, e sem apoio, fazendo tudo por mim, errando e consertando erros, dentro do meu limitado bom senso até o colegial, quando comecei a ser notado por algumas mulheres. Desde colegas de sala até professoras iniciantes, conhecidas como substitutas;
5. Ser notado por algumas mulheres cobiçadas desperta a raiva nos seus colegas do mesmo sexo que também querem ser notados por elas. Rodinhas e sessões de luta usando eu como um saco de pancadas virou modinha entre os meus criativos coloegas. A partir daí comecei a estudar artes marciais para me defender e aprendi que arremessar pedras e levar ferraduras para a escola para se proteger era permitido desde que não descobrissem;
6. Diante de ameaças constantes comecei a questionar a mim mesmo sobre minha presença. A tentar entender porque tanta raiva e tanta afronta à minha pessoa que era mais ingênua do que uma historinha do Teddy Ruxpin e seu amigo Grubby.

7. Comecei a ficar intrigado para entender porque algumas mulheres eram as únicas pessoas que me tratavam bem apesar da indiferença das demais.
8. Cheguei à unica explicação plausível dentro da lógica: Eu deveria ser intragável o suficiente para incomodar tanto, já que feio eu não era, chato eu não era. Comecei a achar que alguma coisa em mim incomodava meus colegas. E quis descobrir. Ao mesmo tempo comecei a me autosabotar sem perceber;
9. Um dia, notei uma amiga do colegial levar uma pasta com fotos que cuirosamente chamavam a atenção de todas as outras, que formavam um aglomerado de meninas, que se juntavam e ficavam olhando atentamente. Descobri que eram fotos de modelos e atores que elas consideravam atraentes. Essas porcarias que se encontram em forma de pôster em revistas teens.
Notei uma delas mostrando a foto de um dos caras e apontando pra mim disfarçadamente com o queixo, enquanto olhava para as outras. Ela estava nitidamente me comparando com um deles. Também notei cabeças femininas discordando da opinião dela com bastante furor. E outras sorrindo, acredito que deveriam estar concordando. Isso me chamou a atenção e poderia ser uma boa ferramenta, já que eu estava convencido de que eu não era muito bem vindo entre meus colegas do sexo masculino e era sempre motivo de chacota e brigas.
10. Meses depois uma professora de inglês confirmou o que eu desconfiava, dizendo que eu lembrava mesmo alguns atores, dependendo do ângulo. E aproveitou pra dizer que eu era uma pessoa agradável. A partir daí comecei a entender que eu tinha um ponto forte para ser aceito entre as pessoas e comecei a desenvolvê-lo. Se eu era agradável era sinal de que eu tinha algum carisma, e se eu tinha um carisma eu poderia desenvolvê-lo e intensificar seu resultado de alguma forma.
Porém, continuei não sendo aceito entre meus colegas homens e sempre sendo ameaçado por alguém do tipo "Te prepara que um dia desses alguém te quebra no meio da rua" ou "uma bala no meio da tua cara ia cair bem". As ameaças ficara muito constantes e exageradas que eu comecei a perceber que eles estavam com medo, inveja ou algo que mexia profundamente com eles. Até o dia em que um bichinha veio me convidar pra sair. Assustado e puto, rejeitei completamente a possibilidade e ele me disse pra ficar calmo que ele era apenas um que tinha coragem de dizer o que pensava e não passava vontade, insinuando que haviam bichas enrustidas na sala de aula do cursinho. Apesar de ter sido um comentário meio besta, me ajudou a enxergar que tudo que havia acontecido até então na minha vida pessoal, nas escolas e todo o lance com professores e diretoria tinha a ver com inveja e dor de cotovelo de colegas.
Li alguns livros para entender melhor e evitar concluir tontices, e algumas coisas do que havia pensado batiam, outras não, e descartei as idéias que não tinham nada a ver. Durante todo esse processo fui saindo aos poucos com algumas colegas, algumas amigas que eram bem francas comigo, e rolos que acabavam acontecendo. Enquanto poucos colegas homens gostavam da minha amizade, elas me aceitavam, até demais. Foi aí que fui treinando e pegando o jeito da coisa. Ou seja, por ser rejeitado por colegas e por ser afrontado constantemente, sem nem sequer desejar maldade para quem me afrontava, comecei a entender que as pessoas são precipitadas, ansiosas, invejosas e têm o maior complexo de inferioridade, a ponto de o tratarem com desdém total por puro ciúme e insegurança.
Se por um lado foi duro e complicado não ser aceito durante a infância e começo da adolescência, por outro percebi alguns pontos de vista que eu não teria descoberto se passasse a vida acreditando e confiando em meus amigos.
Só pude contar comigo mesmo durante um tempo, e depois comigo e com algumas mulheres no fim da adolescência. Foi o que me deu a percepção que tenho hoje. Errada, exagerada, positiva ou completamente certa, não importa. É o que eu acredito e o que me direciona hoje.
Pode ser que um dia eu chegue à conclusão de que eu estou totalmente enganado, mas até agora estou satisfeito, e venho, já há alguns anos, me saindo melhor do que antes, adotando os pensamentos e a postura que twito e escrevo aqui.
Bem, resumindo e a grosso modo, sem contar detalhes, foi isso.

MulherNaoPresta: Twitter - Formspring - Blog

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu também me pergunto... o que leva uma pessoa e um grupo de pessoas (o que é pior) perseguir os outros? Só pode ser inveja - ou aquela postura animal de que tem que destruir aqueles que eles julgam ser mais fracos?! Ridículo! E o ser humano se acha melhor que os outros animais (sim, pois ele é o único animal que pensa ser uma entidade divina, maravilhosa, admirada). Porém vou falar bem CLARO agora: a natureza fez duas coisas sábias para lembrar que o homem é um NADA: ele morre como todo mundo e usa privadas! Quando eu me sinto acuada por alguem eu penso nessa pessoa no banheiro... é ótimo! Parabéns pelo texto, gostei muito!

Liana disse...

Isso acontece com todo mundo, mas com meninos é pior. Um ex-namorado meu chegou a ter síndrome do pânico devido a essas coisas que sofria na escola.

Lembro quando eu estava na primeira série, tinha um menino de uns 9 anos que batia nos menores, não creio que fosse por inveja, mas simplesmente porque ele podia. Vai entender. Só sei que um dia me deu tanta raiva de ver aquele ato covarde de machucar os menores que peguei ele pelo pescoço e empurrei com toda a força contra a parede. kkkkk
A partir daí, os meninos tinham medo de mim. hehehe

sonyangel12 disse...

ele já tinha me contado um pouco da história dele, só não tinha se aprofundado tanto....
o ser humano é mesmo um bicho estranho....é mais fácil agredir do que aceitar que alguém chama mais atenção, mesmo que discretamente...
a cada dia tenho mais medo da raça humana....

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