quarta-feira, 12 de maio de 2010

Autobiografia


Quando tinha uns onze anos, e já me achava mocinha, sempre imaginava que lá pelos trinta anos já teria minha casa, um bom trabalho, marido e três filhos: duas meninas e um menino, já tinha até os nomes. Inclusive, fazendo os cálculos, eu e minha amigas dizíamos: Ihhh, no ano 2000 estaremos umas velhas...
Dos quinze aos dezoito anos foi bem como me disseram que seria... passou voando! Um período de descobertas, do primeiro amor, a primeira transa com quase dezenove anos... Depois vieram os namorados, vários, pois nunca fui de esquentar banco. Nem na faculdade esquentei, fiz dois anos de um curso e passei para outro, escolha essa de que hoje muito me arrependo.
Aos 20 e poucos, casei pela primeira vez. Aos 29, me separei. E, quando finalmente cheguei aos tais trinta anos... separada, sem filhos, sem casa, dona do próprio negócio, que às vezes dava dinheiro, às vezes não dava. Enfim, tudo diferente do que imaginava. Não me dedicava como devia ao trabalho, porque estava empenhada em viver a liberdade de uma segunda adolescência, dessa vez não vigiada, morando sozinha \o/ !
Hoje,
aos quarenta e poucos, tenho uma filha, um segundo marido e um emprego onde não sou nem um pouco valorizada, que não era o que eu sonhava nos tempos da faculdade, mas que me senti obrigada a assumir depois que tive minha filha e precisava de uma grana fixa. Não quis ainda guardar dinheiro para comprar uma casa. A sensação que tenho é de que estou sempre correndo atrás de alguma coisa que nunca alcanço! Ou de que nunca chega o momento de concretizar os sonhos de criança!
Nunca consegui pesar as coisas proporcionalmente. Estava carente, resolvi casar, mudei de cidade e perdi uma grande oportunidade de crescer profissionalmente... e muito! Quis ter filhos, larguei a cidade grande e voltei para o interior onde achava que seria mais tranquilo para criá-los. Depois de ter minha filha, penso agora em ir para uma cidade maior para poder dar a ela mais oportunidades de estudo, cultura e lazer.
Não basta imaginarmos como as coisas serão num futuro distante. Temos que, principalmente, fazer as escolhas certas, no momento certo, com o espírito em paz. Todas as escolhas que fiz na vida foram feitas de cabeça quente, em períodos conturbados ou em momentos em que eu não estava bem de alguma forma. É claro que, se não estamos bem, devemos tentar mudar, mas certas decisões são como entrar em um autoestrada sem retorno próximo.
Às vezes me queixo de que meu pai nunca foi presente para me orientar em certos momentos... mas nunca segui conselho de ninguém, sempre dei cabeçadas sozinha! E quanto tento seguir conselhos, acabo me sentindo um vegetal, uma planta que está ali só para ser regada, para que não morra. Como então encontrar a paz? Quando a gente sente que pensa diferente da maioria será que está na hora de se internar em uma clínica para ficar "normal"?
Tem gente que quer sempre a mesma coisa a vida inteira. Eu nunca fui assim. Adolescente é assim, um dia ama, no outro, odeia. Talvez eu não tenha amadurecido, e - talvez por eu ser assim, eles, os adolescentes, me adorem! Converso com eles de igual para igual e não consigo conversar com "adultos" muitas vezes porque não encontro assunto ou ideias afins.
Será que isso algum dia vai parar? Essa insatisfação? Esse sobe-e-desce sem parar? Acredito que tudo nessa vida serve para nos ensinar algo. Quem não aprende é burro mesmo. De que adianta levar lambada da vida se não fica nada de bom? Só que nossos defeitos, ah, esses, não tem jeito... é só tentar amenizá-los e torná-los suportáveis aos olhos dos outros.
E hoje... bem, hoje eu não consigo imaginar como estarei daqui a vinte anos, se é que ainda estarei viva. Hoje penso bem mais na felicidade da minha filha do que na minha. Mas ainda estou pensando em mudar, porque realmente sempre é tempo para mudar e crescer, sei que necessito disso para me sentir viva e sei que ainda tenho muito, mas muito mesmo para aprender nessa vida. E talvez para ensinar também!
Beijos!

16 comentários:

Cátia Aguiar disse...

olha mulher de 40 eu também fiz 40 anos no dia 26/04 e olha nunca estive tão bem na minha vida! Tenho filhos? Não. Tenho marido? Não. Mesmo por que descobri exatamente aos 40, ou tirei isso do universo do meu inconsciente, que quero é uma esposa, rsrs. E nunca estive tão feliz! Estou conseguindo postar todas as materias e com a graça de Deus irei publicar meu livro de poesias..beijos e não desanime, a vida é assim , podemos cair 7 vezes mas nos levantamos na oitava!
felicidades!

Venenosa disse...

É muito bonito poder ver um pouquinho do que vc tem por dentro. Apesar de todos os erros, a verdade é que nós nunca sabemos se vamos acertar. Viver é um risco e ser feliz é saber ver o lado bom de tudo. Um beijo.
www.venenopicante.com

DriPaulo disse...

Ler seus posts me faz voltar ao passado e fazer o mesmo trajeto... na cabeça flashs de desejos e sonhos não realizados, alguns relizados, com sacrificios de outros... e assim caminando... quebrando a cara, chorando, rindo .. nesta "auto estrada" as vezes em alta, as vezes em baixissima velocidade!!
Bjo querida!

Érica Lenita Blog´s disse...

É... e neste corre corre a gente acaba abrindo mão de muitos sonhos e deixa passar grandes oportunidades que jamais voltarão.

Bate o arrependimento... mas não há o que fazer... O jeito é idealizarmos outro sonho, fazer novos planejamentos a ir à luta para realizarmos.

E o mais importante: ficarmos atentos para não desprezar nenhuma oportunidade!

Penso que este texto seja um desabafo de muitas pessoas também...

Um grande beijo!

Biosfera disse...

Gostei muito do 7º parágrafo...
Sempre me questionei sobre a presença do meu pai. Só tenho 26 anos, mas já passei por várias fases em relação ao meu pai: odiei, neguei, tive pena, até a indiferença. Sempre afirmei pra todos e pra mim mesmo que um pai não faz diferença. Mas ao mesmo tempo me questiono se é verdade ou não... O certo é que... nossas escolhas e nosso caráter é fruto de nossas ações diárias.

Mulher de 40 disse...

Cátia,
Sempre penso q sou uma gata e tenho 7 vidas hehehe

Venenosa,
Viver é um risco... e ter medo de viver é uma cretinice... às vezes sou uma cretina!

adri71,
eu ando em baixíssima velocidade atualmente... depois de ter um ano em alta velocidade...

Érica,
O arrependimento é como aquela história do carro com os faróis voltados para trás... mas é impossível não passar por ele, ele nos ensina!

Biosfera,
tb passei por todas essas fases com meu pai. Hoje apenas convivo e ajudo de vez em quando. Mas a falta de um pai faz muita diferença, sim!

BEIJOS a todos e obrigada pelos comentários, é porisso que desabafo, para ver refletirem minhas ideias em vocês e voltarem com novos olhares!

Liana disse...

As coisas raramente saem como planejado. Talvez porque não saibamos planejar direito e quando fazemos isso ainda somos muito jovens e com pouca idéia de como são as coisas. Além disso, a gente muda, e os planos mudam junto, não podemos nos prender a planos passados que tvz não reflitam mais o que somos hoje.
Assim como a gente amadurece, os sonhos precisam amadurecer junto, de forma que sejamos capazes de transformá-los em projetos e, enfim, em realidade.

Anônimo disse...

Viver é buscar eternamente a felicidade. Crescer está na alma e na conciencia, não no espelho. A vida segue sem parar e não espera ninguém, e dizer que tudo pode acontecer na hora certa no momento certo pode ser uma mera ilusão, pois tudo acontece e se cria a partir de nossas próprias mãos, da nossa própria boca com suas palavras. E talvez possa descobrir que lá no final viver foi bom pra você mesmo com seus altos e baixos. Ninguém é feliz plenamente, só posso dizer que é mais vivida(o) e sabe desviar/superar de uma tristeza ou problema que pode surgir. Então seja quem você é, não há nada de errado e mais humano em buscar ser feliz. Dizer que você tentou e tudo valeu a pena é o que importa no final das contas !

Venenosa disse...

Querida, seu post me inspirou... vai la ver! http://www.venenopicante.com/2010/05/tempo-da-nao-inocencia.html
bjinho

Monica disse...

Eu gostei muito do jeito como você falou das suas frustrações, dessa sua insatisfação... Eu me sinto MUITÍSSIMO assim.

A diferença é que sou muuuito mais jovem... :)

Tenho 39, oras! :)

Sabe qual é a diferença? Não tenho filhos. A outra? Vou pegar o que você disse:

"Quando tinha uns onze anos, e já me achava mocinha, sempre imaginava que lá pelos trinta anos já teria minha casa, um bom trabalho, marido e três filhos: duas meninas e um menino, já tinha até os nomes. Inclusive, fazendo os cálculos, eu e minha amigas dizíamos: Ihhh, no ano 2000 estaremos umas velhas..."

Pois quando eu tinha onze estava pra dormir, já deitada, e meus pais estavam vendo Fantástico. Veio lá uma matéria sobre o fim do mundo em 1999.

Sabe o que minha cabeça desmiolada pensou na época? Caramba... vou morrer com 28!

Claro que 28 pra mim era mais distante do que Marte (e pensar que ficou lá na esquina, tão pertinho mas tão longe, já que a estrada de volta tá interditada...).

:)

Maria Amora disse...

Menina de 40,
Os sonhos são para serem sonhados e revistos de tempos em tempos, trocados, adaptados. O que frustra é formar uma fantasia do que nos acontecerá... isso não existe, não podemos planejar nosso futuro pois nem sempre ele diz respeito só a nós mesmos ou depende só de nós. Acontece uma morte na família e tudo muda. Nos separamos e novamente tudo muda. E quando nasce o filho?!!!
Precisamos usar toda a flexibilidade e criatividade para nos recriarmos sempre.
Beijoca,
Mulher de quase 60

@lucames disse...

Oi,

Recentemente li um artigo sobre isso: sobre a eterna adolescência que o sistema atual da sociedade de consumo nos causa, por nos infantilizar. Nos tratam com se fôssemos incapazes de escolher e assumir a responsabilidade por essa escolha. Acho que vc não cresceu, mesmo. A vida de altos e baixos nunca me pareceu a melhor forma de se viver e estabilidade emocional faz par com a maturidade.

Abraços,
@lucames

Unknown disse...

Essa autobiografia poderia ser a minha... pequenos detalhes são diferentes pois tive dois filhos, um do primeiro e um do segundo casamento. Nenhuma das minhas relações deu certo. Todos os homens que tentaram me sufocar foram convidados a sair da minha vida. Eu tb achava que estaria uma velha nos anos 2000. Viu, chegamos a 2010 e continuo com a vitalidade de uma adolescente... e como vc prefiro estar e conversar com eles. Eu tb achei que estaria com a vida estável... bem não foi nada daquilo que me venderam... mas pelo menos a minha vida foi verdadeira... por que sempre fiz o que achei certo... e se acertei ou não... foi sempre pela minha cabeça. Obrigada por esse texto maravilhoso! Um beijão

Anônimo disse...

É muito bonito poder ver um pouquinho do que vc tem por dentro. [2]

Sem duvida é sempre muito bom saber um pouco mais das pessoas, ainda mais de voce, que quase nunca posta coisas desse tipo.

Obrigado por compartilhar esse texto lindo e mais ainda por nos fazer tão parecidos contigo.

sou mais fã ainda!

bjos

Mulher de 40 disse...

Mais um capítulo da minha autobiografia... finalmente consegui mudar de cidade e dar novo rumo à minha vida! \o/
Mas tudo sempre parte de uma decisão e de uma opção...

Patricia disse...

Adorei o texto... Na verdade adorei todo o blog... Não concordo com tudo mas seus textos me fazem pensar.
Só uma coisa: Passei um bom período como você e apesar de não ter quarenta (mas chega rapidinho!), acho q vc melhoraria bastante se fosse a um terapeuta. Ajudaria a organizar melhor as idéias, a definir vc melhor pq já imaginou chegar aos 65 e perceber que essa sua inconstância continua, sem dar um rumo na sua vida, de tal forma q vc possa aproveitar melhor sua fase de vida?

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