segunda-feira, 17 de maio de 2010

As novelas

Como quase toda brasileira, me criei vendo novelas. Ainda mais em cidade pequena, aonde não temos opções de lazer, acabamos sempre na frente das ilusões que a televisão nos proporciona. Não perdia um único capítulo. O último então, víamos as duas vezes! Depois do advento do videocassete, até gravávamos para lembrar depois...
Sempre acompanhando os dramas das mocinhas sonhadoras e sofredoras, que penavam na mão das madrastas, das rivais e até das irmãs. Vítimas de fofocas, acabavam perdendo o homem amado para recuperá-lo quase sempre às vésperas do fim da novela. Os pobres, sempre dignos, felizes, cheios de alegria e vontade de trabalhar, falando um português corretíssimo, bem educados e amorosos com seus pais. Os ricos, quase sempre vilões, tentando acabar com a felicidade do resto do elenco.
Não tiro o mérito de mostrar certas facetas da realidade, mas as novelas também perpetuam rótulos, como o de que ser rico é ter problemas e ser pobre é que é ser feliz. Conheço muita gente que repete esse chavão. As pessoas não raciocinam que o rico pode usar seu dinheiro e seu poder de forma honesta e empreendedora, trazendo inúmeros benefícios à sociedade. E também não pensam que o pobre que fica o dia inteiro ali naquela vendinha cuidando a vida dos outros, pode ser pobre porque não trabalha tanto quanto deveria.
A novela que terminou semana passada, por exemplo, Viver a Vida, de Manoel Carlos, chegou a sujar o chão da minha sala de tanta água com açúcar... Uma paraplégica com toda a infraestrutura para mostrar o "dilema" dos cadeirantes. Médicos que sempre tinham um tempo pra tomar cafezinho e fofocar no restaurante de um hospital onde não se viam pacientes nem sangue. Modelos baixinhas. Uma fotógrafa talentosíssima que só sabia se interessar pela vida dos filhos e atormentá-los.
Estes, por sua vez, homens já com 20 e tantos anos talvez, bem sucedidos profissionalmente, fazendo parte da "geração canguru", que não sai da casa dos pais por comodismo. O personagem Miguel, então... o cúmulo da perfeição em um homem: bonito, rico, profissão de status, querido, sempre bem-humorado, sempre presente a todas as primeiras seções de hidroginástica, de massoterapia, de etc, etc, etc da amada, sempre levantando o seu astral, sempre carinhoso...
HELLOOOOO!!! Quando é que vão mostrar pessoas reais nas novelas? NÃO EXISTE HOMEM ASSIM! Pode até parecer desencanto ou descrença, mas é a verdade! Até quando vamos criar nossas filhas nessa ilusão? Todas as novelas, na minha opinião, nesse ponto prestam um enorme desserviço à sociedade, reforçando nos coraçõezinhos jovens a ilusão do príncipe encantado, que já começou lá atrás, com a Bela Adormecida e toda a cambada.
O casal Betina e Gustavo, que ficou a novela inteira tentando ser infiel e não conseguiu... na vida real quem duvida de que ambos teriam chegado às vias de fato? A chata da Helena teria fisgado um homem do naipe do Bruno, com todo aquele nhém-nhém-nhém dela? Sabe... gostei do final da Paixão, que mostrou que nem sempre que nos apaixonamos pelo homem-quase-perfeito, dá certo. Gostei também do final da Alice, com um moderno casamento a três (#sonho rsrssr), ventilando a ideia de que novos tipos de relacionamento podem fazer as pessoas felizes, longe do tradicional vestido de noiva e gravidezes inúmeras dos finais de novela.
Novela é entretenimento. Mas já virou instituição. Pense nisso. Todos os dias, no mesmo horário, as mesmas mensagens subliminares. Eu adoro olhar. Mas, graças a Deus e aos livros que me deram para ler desde criança, eu penso no que vejo. E hoje tenho a opção de estar aqui, na internet, questionando. Vou continuar me divertindo principalmente com novelas do tipo Caminho das Índias, bem fora da nossa realidade, e também com essa Passione, que vai começar, pelo número incrivelmente alto de homens lindos no elenco! Mas vou continuar me irritando com certas coisas.
Por último... sempre torci pelas vilãs! O que seria das novelas sem elas? Só para lembrar algumas... Flora (Patrícia Pilar), em A Favorita (2008); Maria de Fátima (Glória Pires), em Vale Tudo (1988); Laura (Cláudia Abreu), em Celebridade (2003); Taís (Alessandra Negrini), em Paraíso Tropical (2007). Beatriz Segal interpretou uma das maiores vilãs da tevê, Odete Roitman, e quem conseguia perder as loucuras de Nazaré Tedesco (Renata Sorrah)?
Fim!

2 comentários:

Liana disse...

Não cresci vendo novela, mas assisti algumas no tempo de adolescente e na época que estava de licença maternindade. Realmente é bem isso que falaste. A maioria das novelas e filmes seguem uma receitinha de bolo, são previsíveis e pouco realistas.

Antonio disse...

Eu fujo de novelas como o diabo da cruz mas identifico o que você escreve porque lá em casa a minha mulher consome VÁRIAS novelas em simultaneo. Quando acabou a Viver a Vida ela ficou até deprimida!

Eu lembro-me de 1 personagem que eu adorava: o Sinhô Zinho Malta! :)

Abraço
Antonio

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